Você acredita em uma força superior?

11 de janeiro de 2011 Artigos, Diversos: a partir de janeiro/2010 Comentários desativados em Você acredita em uma força superior?

Anjos, ETS, Wicca, Orixás, magia, o poder dos astros, oráculos, predestinação etc… Fantasia ou metafísica? Numa sociedade tecnológica como a nossa, a busca da identidade e de um sentido para a vida ecoa através de caminhos muitas vezes confusos ou pouco compreendidos pela nossa cultura.

Pouco sabemos sobre a espiritualidade contida nas antigas tradições pagãs, e é claro que, ao tentar retomá-las tanto tempo depois, pecamos por resumir o hermetismo num estado de espírito totalmente isento de pesquisa, um amontoado de informações fragmentadas, uma colcha de retalhos que mais serve para divertir do que para refletir.  Certamente, a superficialidade com que a Astrologia e antigas tradições são tratadas pela mídia, e por alguns segmentos sociais, é a grande responsável pelo seu descrédito, quando este ocorre.

Em meu trabalho de pesquisa astrológica e mitológica, olhando um mapa astral após outro, deparo-me constantemente com uma inquietante estatística a me sinalizar a presença de uma organização cósmica refletida em nossa vida de cada dia. Entendam que não estou falando de “causalidade”, mas de correlação, como se pudéssemos ler “sinais de nós mesmos” no céu.

No entanto, essa “misteriosa força” ou organização cósmica que não depende da classificação de astrônomos para existir, foge ao nosso controle, oculta-se ao olhar limitado dos telescópios, ao mesmo tempo em que se faz sentir tão intensa e presente nas mudanças psicológicas e físicas dos seres humanos.
Tal “estatística” que já ultrapassa o tempo de 15 anos, me deixa na mesma desconfortável e instigadora indagação que vive a ciência atual, após as teorias de Einstein:

Existe uma força organizadora do universo?

A aurora da ciência

A partir de 1600, com a teoria heliocêntrica de Copérnico, e o posterior desenvolvimento das chamadas ciências exatas, a Astrologia foi banida das universidades, e foi abalada qualquer segurança numa verdade metafísica que pudesse oferecer o fio condutor do homem. A própria teoria da evolução de Darwin colocou de lado a fé que o homem projetava num Deus onipotente. Ao desvendar a descendência humana a partir do macaco, a imagem do deus criador sofreu inevitável perda de prestígio na sociedade, e o homem desde então tem ficado cada vez mais órfão espiritualmente, sem o apoio de um sistema metafísico que lhe forneça qualquer modelo de conduta ou explicação para a vida. Resta-lhe apenas viver como uma máquina que segue um ritmo biológico totalmente alienado do resto do universo.

Existem forças superiores ao que o homem enxerga, ou será que tudo se resume à vida material e ao acaso? Essa questão tem sido alvo de discussões há milênios, e explicações sobre as forças sobre-humanas, ou uma inteligência por trás da vida, não faltam nessas culturas milenares como a Egípcia, a Indiana, a Maia… Mas apenas para ser sintética, cito a Grécia antiga, onde ocorreram vários impasses entre filósofos, espiritualistas, matemáticos e físicos…

Grécia antiga:

Para Platão, o que vemos do mundo é mera ilusão, e não a realidade, essa não é vista, ela está por trás do chamado mundo real, o qual não passa de um reflexo. A verdadeira realidade é de natureza metafísica, espiritual, energética, e não material.
Para Aristóteles, não existe nada de verdadeiro além da experiência, ou seja, eu não posso admitir como realidade aquilo que eu não vejo, portanto não existe nada por trás da matéria, nenhuma verdade metafísica que estaria movimentando o mundo que vemos.

Com o passar dos séculos, o impasse entre a visão Aristotélica e Platônica também continuou ecoando na sociedade e na Filosofia, de várias formas diferentes, mas sinalizando ainda a crise entre a matéria efêmera e algo transcendente dotado de origem sobre-humana.

Também Pitágoras forneceu importante contribuição no impasse entre a matéria e o espírito, exatamente no final do séc. 5 A.C., Quando ciência e religião viviam grande conflito na Grécia: Nesse momento, a Astronomia, que desde o antigo Egito e Mesopotâmia caminhava junto com a Astrolatria, começava agora a se separar desta e a combatê-la ferozmente.

Os “físicos” gregos encontravam pedaços de meteoros caídos na Terra e argumentavam que os planetas não eram deuses, como se acreditava, mas eram como aqueles meteoros, apenas pedaços de pedra, matéria sem vida… Não havia então razão para o culto a Ares, Zeus, Afrodite, Hermes e outros deuses projetados nas luzes do céu; mais do que destruir o culto aos deuses, a posição dos físicos ameaçava finalizar com qualquer tentativa de projetar nos céus o sentido metafísico da vida na Terra.

Nesse momento, Pitágoras lança seu contra-argumento:

Argumento de Pitágoras: O que mostra que os planetas são divinos não é a matéria de que são feitos, mas o seu movimento, a sua órbita perfeita, deveras inteligente, de forma que eles não são “errantes” como se imaginava. É a harmonia desses planetas que nos mostra a sua natureza divina e acusa uma inteligência escondida por trás da matéria.

O filósofo e astrônomo grego foi ainda mais longe, mudando radicalmente o conceito de origem e destino da alma, antes centrado no mundo subterrâneo dos mortos; agora, a partir do século V A.C., essa alma passa a ser um descendente das estrelas para as quais retornará.

Essa Astronomia metafísica de Pitágoras vai deixar seus sinais em várias outras filosofias que a seguiram, incluindo o Cristianismo e Islamismo.

O mundo domesticado da ciência…

No século XVIII, o homem se volta para o futuro, o progresso e a razão passam a imperar em detrimento da religiosidade e da fé. A ciência se desenvolve pondo em risco dogmas seculares da Igreja, enquanto o poder político do clero é suprimido, assim também como algumas monarquias e aristocracias vigentes. Nesse momento, o espírito humano tenta libertar-se do mundo imposto pela Igreja através do conhecimento “científico”, mas, junto a essa tentativa, ele começa também a abandonar seu mistério existencial, voltando-se para essa nova “ciência observável” como detentora do saber último.

No século XIX, vemos o acirrado conflito entre o mundo material e o espiritual ocupar a Filosofia: o homem se vê numa sociedade tecnológica, “explicada” pela ciência que se desenvolveu no século anterior. Ameaçado de perder seu valor, sua individualidade, e seu significado, vendo o coletivo suprimi-lo cada vez mais, ele vai buscar então o resgate de sua essência e seu próprio significado no movimento romântico e nas correntes espiritualistas da segunda metade deste século.
Einstein, A ciência em pânico!

No século XX (terminado há pouco), algumas verdades inquestionáveis da ciência começam a desmoronar:

A teoria da Relatividade (Einstein), e até o desenvolvimento da psicanálise, vêm por em questão certos dogmas firmes que sustentavam a própria ciência do século passado.

Nesse século (XX), o homem perde a segurança do mundo fixo sobre o qual se ergueram a geometria euclidiana e a física de Newton, pois com a teoria da relatividade, ele percebeu que tudo está em movimento e o espaço não é só espaço, ele inclui o tempo. Com o desenvolvimento da física quântica, o homem descobre que o átomo não é a menor partícula da matéria e, inevitavelmente, a ciência caminha… Sem solução para o universo.

Os cientistas descobrem que não sabem o suficiente sobre a vida e sobre a matéria, a qual, na física quântica, se transforma em quantidade de energia.
Depois que as ciências exatas no século XVIII haviam dissipado as trevas exteriores e “domesticado o mundo”, as ciências humanas revelaram as trevas interiores, através da Psicanálise, no século XX.

A própria Astrologia, tão desacreditada pelo positivismo, foi submetida a um grande teste estatístico em 1950, pelo matemático Michel de Gauguelin, o qual não conseguiu comprovar a falha dessa antiga tradição, como era seu intento inicial, pois “inesperadamente” os números colhidos em seus testes por vários locais da Europa mostraram que as tendências astrológicas suplantavam o mero acaso.
Se no século XVIII, a ciência se proclamava detentora de um instrumento de afirmação da verdade, no século XX, após a teoria da relatividade, ela entrará em pânico, assim como toda a visão do mundo em que vivemos foi abalada.

A partir daí o cientista perdeu a presunção da certeza e foi aberto o caminho para a aproximação entre a ciência e a Filosofia, pois a Física, a Biologia e a Matemática agora vão questionar a origem da vida, e a possibilidade de uma energia por trás da matéria aparente.

Agora o cientista se pergunta:

O que faz a vida se mover?
O que anima a matéria?
Para onde a vida caminha?
Da onde ela vem?

Agora a ciência vai de encontro à Filosofia, tomando para si questões seculares dos antigos filósofos. O cientista medita não mais sobre a possibilidade de uma “força externa criadora” (Deus) que se impõe sobre a matéria, mas sua atenção se volta para uma energia imanente, uma força inerente à própria matéria, como se alguma espécie de deus ou inteligência a habitasse.

Se em meus comentários, me estendi um pouco sobre essa tensão entre a visão da matéria finita e uma força que a supere, foi para demonstrar que essa é uma questão que sempre acompanhou nossa civilização, e vivemos talvez um momento especial em nosso desenvolvimento, no qual a ciência vislumbra a possibilidade de encontrar rastros do “transcendente” tão próximos de nós, a nos espreitar o tempo todo, codificados na “matéria efêmera”.

Sobre o Autor

Astróloga Humanista, dedica-se ao conhecimento astrológico desde a década de 90, completou seus estudos na Escola Régulus, na AstroBrasil, na Fundação Maria Luiza e Oscar americano e na antiga editora Triom. Estudou astrologia cabalística com o prof. Yair Alon. Fez especializações e pesquisas sobre astrologia vocacional e mitologia aplicada à astrologia. Estudou filosofia com o professor Carlos Matheus, ministrou aulas de Astrologia no extinto clube do Leitor Campineiro, é autora de dois livros sobre Astrologia e várias matérias divulgadas na mídia com distribuição nacional. É membro da CNA- Central Nacional de Astrologia. Faz Consultas presenciais – em Campinas/SP e em São Paulo - ou via skype para Brasil e exterior
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