O Horóscopo no Observatório da Imprensa Maio 09

8 de outubro de 2010 Artigos Comentários desativados em O Horóscopo no Observatório da Imprensa Maio 09

por Ana González

Texto em resposta ao Artigo publicado no site Observatório de Imprensa, que pode ser lido aqui: www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=535IMQ007#

Divertido, inteligente. Assim podemos adjetivar o artigo a respeito de horóscopo que saiu no Observatório da Imprensa (edição 535) no dia 28/4/2009. O apelo que tive de escrever sobre ele pretende ser a abertura para uma discussão sobre o tema, visto que o autor aponta aspectos importantes que nós, astrólogos, devemos levar em conta. Apesar das críticas, da ironia e da agressividade que talvez sejam exageradas, o autor aponta para questões que merecem ser ouvidas. Procurei colocar alguns comentários ficando, entretanto, longe da intenção de esgotar o assunto.

O Texto

O texto parece uma brincadeira pelo tom em que o jornalistaEugênio Bucci discorre as 3171 palavras de seu discurso informal, num texto minucioso, em tom de humor que nos encanta na medida em que vai desfiando a questão central que é a sensação de injustiça que sente como um sagitariano perseguido no horóscopo de Oscar Quiroga em O Estado de S. Paulo. A ironia – nem sempre fina – esconde, na verdade, uma camada grossa de seriedade.

O longo texto foi dividido em seis partes para melhor compor a argumentação que segue uma ordem intencional. O tom coloquial aproxima o leitor do autor e cria uma cumplicidade necessária à tarefa. Eficiente estratégia.

Por “uma questão de método” ele deve explicar “por que falar de horóscopo no Observatório da Imprensa” O Autor inicia assim o texto, justificando sua análise de horóscopos nesse respeitado órgão da imprensa e se antecipando a possíveis críticas – em que poderiam ser talvez encontrados preconceito ou resistência ao assunto. A presença constante deles em veículos de comunicação, sem que possam ser eliminados da pauta, ainda que sejam tão antijornalísticos –“pouco objetivo, crítico e preciso, não independente e não factual”-, como o autor mesmo diz, parece ser uma razão suficiente (consistente?) para a presença da matéria.

Alem de serem antijornalísticos são também incoerentes e diversos entre si, como por exemplo na comparação entre as interpretações astrológicas dos jornais O Globo, Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo. Talvez ele aponte para algo que é pouco claro para quem não tem informações a respeito de horóscopos. Os dados a serem lidos e que são acessíveis ao profissional são inúmeros, enquanto o espaço disponível na mídia, muito pequeno. Daí que os horóscopos podem variar muito segundo o estilo dos astrólogos. Também talvez seja por isso sua linguagem seja vaga. Há outras possibilidades para se obter informações astrológicas de forma mais completa.

Continuando nas justificativas iniciais, o autor confessa “ter derrapado nessa curva perigosa” quando a presença feminina em sua vida o motivou: “Comecei a ler o horóscopo por uma transferência de afeto, eu acho.” Dessa maneira, talvez seja fácil uma frustração de expectativas, tendo em vista essa motivação tão frágil. Os horóscopos são parciais em relação ao que a astrologia pode dizer da natureza humana. São pequenas indicações de um amplo material de dados que não cabem no espaço a eles disponibilizado. Por isso, devem ser lidos com essa ressalva.

Por outro lado, o autor enumera as muitas técnicas de previsão em variadas áreas da cultura, que se justificariam por que a espécie humana busca respostas para entender o acaso, os “desígnios ocultos que impactarão nossos míseros destinos”. Cabe também a comparação dos profissionais da astrologia com os de economia: ”Em tudo, eles não são piores do que 90% dos economistas, que também vivem de previsões – quase sempre erradas.” O autor nos indica que as previsões são presença inevitável na cultura levando-se em conta as necessidades da natureza humana, embora sejam equivocadas em sua realização. Talvez, em parte, ele tenha razão.

Logo no início da quarta parte ele diz a que veio: “Demorou para que eu me reconciliasse com o meu senso crítico e visse, ali, no que se dizia dos sagitarianos, uma clara manifestação de intolerância.” Apontar a volta do senso crítico pressupõe a eliminação da crença, em que ele teria se perdido. Voltar à razão significaria também poder avaliar criticamente o horóscopo, deixando de lado o afeto e que tais. Infelizmente, não só o uso dessa técnica da Astrologia como a própria astrologia é observado por grande maioria do público como uma área em que se deve acreditar. A astrologia ainda não é percebida como um campo de conhecimento da cultura humana, mas como uma área ligada às religiões ou quetais. Mais uma vez podemos apontar que a opinião pública talvez não tenha a devida informação. Como poderíamos melhorar nossa comunicação nos veículos de comunicação para passar mais corretos dados da área que nos compete?

Somente na quarta parte do texto, o autor analisa o texto do horóscopo propriamente dito, numa cronologia que se estende longamente. Era um “Tempo complexo”, diz. Tudo começa com uma aceitação no final de 2008, “quando meu vício era uma flor em botão”. Esperou o ano de 2009, que continuou com suas observações e mal estar perante a “campanha difamatória” contra seu signo, o que justifica ainda outros comentários. O autor expõe sua análise dos dias 30 e 31 de março, 13, 20 e 21 de abril estabelecendo sempre uma relação entre o texto do horóscopo e os acontecimentos de sua vida. Mostra nessa comparação a dificuldade de se enquadrar nos eventos das previsões astrológicas e apresenta o estado de ansiedade e angústia que vai se montando dentro dele.

Até que no dia 21 de abril, no pico de sua insatisfação, decide escrever o artigo: ”Foi ali que resolvi: vou queixar-me no Observatório da Imprensa. Pelo menos isso me resta. Farei a crítica da imprensa do horóscopo.”

E ela veio assim na formas desse artigo, começado e terminado no dia 27/04, bem humorado, recheado de ironias. A coluna de O Estado do dia 27 de abril ainda merece do jornalista uma última análise que deflagra sua auto defesa, quando se revolta, então, contra os astros. E declara sua independência em relação a eles.

Nesse ato final e declamatório, o último gesto dramático-cômico: “Por fim, em alerta aos astros – e aos títeres que eles sustentam dentro das redações -, lanço o derradeiro oximoro astral, o perfeito paradoxo zodiacal, proclamando a nossa liberdade diante dos astros e de seus intérpretes: nós, de Sagitário, não acreditamos em horóscopo.”

Mais Alguns Comentários

Curtos, espremidos na mídia, o horóscopo tem mantido regularmente o hábito de seu público. Numa leitura cheia de curiosidade, ele acostumou-se a ela desde o início do século passado, quando foi criado por um jornalista. Neles, há o cumprimento de uma tarefa técnica que é difícil para o profissional astrólogo. Talvez ele continue a ser chamado porque o horóscopo precisa permanecer na mídia. É, entretanto, para o horóscopo as mais freqüentes críticas dirigidas à Astrologia.

Não se pode confundir horóscopo com o conjunto do saber astrológico. Dentro dele encontramos além dos horóscopos, que cumprem uma função oracular que tem se mostrado importante, toda uma série de instrumentos que pode ser utilizado para estudar a nossa vida, a partir de uma linguagem especial de símbolos. Esse campo de conhecimento da cultura procura responder às perguntas sobre a natureza humana que é simbólica, buscando, portanto por representações e significados. Isso não é pouco e, infelizmente, tem uma grandeza pouco percebida e valorizada.

Ainda que alguns de seus argumentos possam merecer nossa atenção, o conjunto do artigo causa muito incômodo pelo tom jocoso, que infelizmente não nos é estranho. Mas, seu objeto talvez merecesse um pouco mais de seriedade e de respeito, como tantas pautas da imprensa.

Quanto a nós, talvez possamos repensar a maneira como temos informado nosso público em relação aos horóscopos. Não me parece que nosso jornalista, como o público em geral, tenha suficientes informações do trabalho do profissional em astrologia para fazer as discriminações necessárias a uma boa avaliação de nossa área.

Quanto ao inteligente jornalista, podemos torcer para que o destino, esse que nunca se sabe como vai falar em nossas vidas, o coloque mais uma vez no caminho do zodíaco, desta vez com setas mais certeiras. Que as musas e os astros inspirem o universo feminino á sua volta!

Sobre o Autor

CNA (Central Nacional de Astrologia)
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