O astrólogo que escreve horóscopos.

12 de janeiro de 2011 Astrologia Horoscópica, Vertentes Astrológicas Comentários desativados em O astrólogo que escreve horóscopos.

por Oscar Quiroga

No mês de abril de 1986 levei um susto quando me convidaram para escrever a recém-criada coluna de horóscopo do jornal ‘O Estado de São Paulo’, e ao mesmo tempo me senti aliviado quando me informaram que a escreveria na qualidade de ‘ghost writer’. O susto derivou do fato de que ninguém nasce preparado para escrever colunas de horóscopo, e nem tampouco há cursos que preparem para este ofício. O alívio veio de que, nos meios astrológicos, pelo menos de então, ele era visto como de quinta categoria, um atentado contra a seriedade da Astrologia, pelo que, mascarado como escritor fantasma, me refugiei no anonimato, para não ser execrado nos meios astrológicos.

Entre sustos e alívios, e dado não ser possível se nascer sabendo como se escreve um horóscopo de jornal, fui logo lendo revistas e jornais do mundo inteiro, adotando a mesma linguagem para cumprir minha função, tipo: “Marte transita no âmbito familiar, previna-se contra discussões” — e blablablás deste tipo.

Depois de poucos meses, a pessoa para a qual eu escrevia na qualidade de “fantasma” passou por diversas transformações em sua vida pessoal, e não quis mais levar em frente esse ofício, o que provocou mais um susto, pois a partir de então eu teria de dar as caras, assinar o horóscopo com meu próprio nome (curioso, nem me passou pela cabeça inventar um pseudônimo, penso agora).

Superada esta fase, e não se confirmando nenhum vaticínio trágico ou de execração pública, o pior ainda estava por vir. Um ano depois, em abril de 1987, eu estava literalmente de saco cheio de escrever esta coluna, não achava graça nenhuma nesses textos, me parecia que informavam muito pouco. Grande crise! O que fazer agora? Simplesmente desistir? Ou, por acaso, aproveitar o ensejo e começar a escrever do jeito que a mim parecia que iria fazer algum sentido?

Escolhi a segunda opção, e iniciei uma nova fase deste ofício de escritor de horóscopos, partindo da hipótese de que os eventos cósmicos, que a Astrologia estuda, têm de, necessariamente, se disseminar em multidões de seres humanos para se manifestar. Ou por acaso não é que, a cada momento, nascem centenas de indivíduos humanos que, do ponto de vista astrológico, terão o mesmo mapa natal? Esta teoria se arraigou muito bem em minha consciência, — não feriu a intuição nem tampouco me parece um delírio, — porém, como transformá-la em palavras? Como escrever, em pouco espaço, algo que faça sentido a muitos? Como tornar um mesmo evento significativo para as diferentes e particulares individualidades, sem tirar de ninguém o direito a se considerar único e original? Eis que me deparei com o fato de que o ofício de escrever horóscopos sintetiza dois trabalhos num só: o de natureza técnica, que é astrológico, (o cálculo dos eventos e a noção de sua natureza), agregando-se a este o trabalho literário, que é o de encontrar a linguagem que comunique da melhor maneira possível estes eventos também ao maior numero possível de pessoas. Novo desafio, estudar literatura! E vem ao meu auxílio o Fernando Pessoa (graças ao Altíssimo ele existiu!), de quem mamei um pouco da arte da literatura subjetiva. Só subjetivamente se consegue ampliar o foco, sem por isso divagar ou cair no lugar comum. É mito afirmar que tudo que for subjetivo é, também, vago. Não há nada de vago, por exemplo, numa emoção, pois mesmo esta sendo absolutamente subjetiva, ninguém poderá confundir raiva com alegria. Auxiliaram-me, também, alguns gregos desconhecidos, versados na arte da epigrafia, a escrita de frases curtas e sintéticas. Da epigrafia provêm, por exemplo, os epitáfios e provérbios, sendo os primeiros aquelas frases escritas nas lápides para descrever como foi a vida de alguém. De alguma forma, os textos dos horóscopos lembram os epitáfios, já que também são destinados a descrever a experiência de vida em poucas palavras.

Enfim, explico tudo isto para manifestar a vocês a riqueza oculta por trás de um ofício que foi visto com maus olhos durante décadas, mas que atualmente começa a encontrar seu devido lugar, pois se a Astrologia tem algo verdadeiramente importante a dizer, sua mensagem é para nossa espécie humana como um todo, e não para cada um de nós em particular.

É por isso que me soa falsa essa afirmação muito comum que se faz, quando se tenta resgatar a seriedade da Astrologia, a de que o estudo seria verdadeiro ou representativo apenas quando feito através de uma leitura individual, pois as leituras genéricas, como as de horóscopo de jornal, seriam apenas isto, meramente genéricas. Ora, neste caso não me parece que possa haver alguma confusão de quem veio primeiro, se a espécie humana ou o indivíduo. Do ponto de vista universal somos, antes de mais nada, o grupo humano, que se perpetua através dos tempos em manifestações individuais. Por que a Astrologia não poderia importar-se mais com o grupo do que com o indivíduo? E no caso de importar-se mais com o grupo, assim como se estuda a Astrologia das Nações, se pode também estudar para sintetizar, dia a dia, numa mensagem genérica, aquilo que faça sentido aos indivíduos pois, evitando-se os detalhes, que são da alçada do que é particular em cada um de nós (e por isso livremente escolhido), a escrita do horóscopo se focaliza naquilo em que todos estivermos em comunhão.

O trabalho do Astrólogo que escreve horóscopos é digno de representar o que de mais sério haja nos meios astrológicos, principalmente de acordo com o espírito do tempo atual, pelo qual, finalmente, está caindo a ficha de que o grupo é mais importante do que o indivíduo.

Oscar Quiroga é astrólogo autodidata e psicólogo, nascido na Argentina e radicado no Brasil desde 1978. Quiroga mantém colunas de Astrologia horoscópica em alguns dos maiores jornais do país, o que lhe valeu em 2007 ter sido laureado pela Academia de Letras do Distrito Federal com o título de imortal ocupando a Cadeira Especial de Letras Astrológicas.

Sobre o Autor

CNA (Central Nacional de Astrologia)
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