Entrevista com Beto Boton

3 de fevereiro de 2011 Artigos, Entrevistas Comentários desativados em Entrevista com Beto Boton
 Barbara Abramo
 Beto Boton

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Beto Boton está de volta!

Quem está na estrada há mais de 20 anos sabe quem é Carlos Alberto Boton. Para os mais novos colegas, o seu nome pode ser apenas lenda, ou um nome lido na lombada da edição de “Tábuas de Casas Astrologicas brasileiras”, a primeira confeccionada para o Brasil, e publicada pela Editora Pensamento nos anos 80.

Beto, como é chamado por clientes, amigos e parceiros de trabalho, sempre foi um dos mais ativos astrólogos do cenário paulistano. Com seu estilo vivaz e empreendedor, tocou a Astrocenter (Centro de Estudos Astrológicos) em São Paulo, grande escola de Astrologia da cidade, da qual foi sócio fundador e onde formou vários astrólogos profissionais. Inquiridor, Beto Boton estudou com alguns dos maiores astrólogos brasileiros, tais como Zeferino P. Costa e Juan Alfredo C. Müller, entre outros.

Fez conferências e apresentou diversos trabalhos originais em colóquios internacionais, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, e trouxe profissionais de outros países para dar palestras, cursos e workshops, como o astrólogo norte-americano Jeff Jawer. Além disso, com seu pioneirismo, lutou ombro a ombro com outros colegas para tornar real o sonho de uma entidade representativa moderna, que seguisse um modelo contemporâneo, horizontal e mais “aquariano” por assim dizer, que foi o sonho da Rede Nacional de Astrologia, da qual muitos participaram.

Por sua formação em ciências exatas, Beto entendeu rapidamente o potencial da informática e da engenharia de informação que vinha nascendo. Por isso, não poupou esforços para trazer programas e máquinas capazes de libertar o astrólogo para seus estudos e demais pesquisas, como apontou em congresso paulista nos anos 80.

A determinada altura, Beto resolveu desbravar outros horizontes e lá se foi para os Estados Unidos, onde permaneceu por dois anos. Em seguida, fixou-se na Austrália, onde viveu e trabalhou nos últimos 18 anos.

De volta ao Brasil em março último, Beto trouxe na mala algumas surpresas para compartilhar com os colegas. Além de ter ingressado na CNA em 2009, já deu seu segundo workshop em São Paulo e pretende agitar mais ainda o cenário paulistano no segundo semestre.

Hoje em dia, além de astrólogo, Beto Boton é Counsellor (Conselheiro terapêutico) formado, com um Advanced Diploma in Counselling na Austrália sendo Membro Clínico da QCA 2009 (Queensland Counsellors Association) – Associação de Conselheiros Terapêuticos do Estado de Queensland, membro da PACFA (Psychotherapy & Counsellors Federation of Australia) Associação de Psicoterapeutas e Conselheiros Terapêuticos da Austrália. Especialização em MiCBT – Mindfulness integrated Cognitive Behaviour Therapy – Austrália.

Abaixo, um pouco do que ele está programando para seu retorno, nessa entrevista concedida em julho à sua ex-aluna e amiga Barbara Abramo.
Quem quiser maiores detalhes, entrar em contato através do site http://betoboton.com

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ENTREVISTA

BA – Você passou muito tempo fora do Brasil e agora está retornando, muita gente tem curiosidade de saber o que voce achou do meio astrologico australiano, quais são as correntes mais fortes por lá, o clima dos eventos da área, os temas mais candentes, e a preocupação dos usuários de serviços astrológicos.

BB – Foram 2 anos nos Estados Unidos e 18 anos na Austrália, nestes anos todos e baseado na minha vivência trabalhando no setor, acredito que existem diferenças de base entre os modelos de trabalho, e também entre os perfis dos clientes que tive nesses países – mais especificamente na Austrália – pois acho que 2 anos são apenas umas “férias longas” em um país, não dando assim para compreender com profundidade a sua cultura. Mas, voltando ao caso específico da Austrália, a Astrologia é o que se poderia descrever como “acadêmica”. A grande maioria dos Astrólogos se concentra em estudar técnicas, teorias e escrever sobre estas, além, é claro, das colunas de horóscopos nas revistas femininas e jornais. Não existe um volume de clientes como aqui no Brasil. Temos que lembrar que em um território 10% menor que o Brasil temos uma população total que não é maior do que a da ‘grande São Paulo’. Posso citar um exemplo de um astrólogo que viveu 50 anos trabalhando com uma porta aberta para a rua, no centro de Sydney, e me mostrou que a quantidade de clientes novos que teve em 50 anos foi praticamente a mesma que um astrólogo em São Paulo atende em 12 anos de trabalho.

BA – Outra curiosidade é se os astrologos australianos sabem do que fazemos aqui, e se eles têm ou não uma disposição aberta para trocar com os astrologos brasileiros. Como é a relação com a tecnologia, a informática, e para onde estamos indo na Astrologia em termos de sofisticação tecnológica, já que, além de exímio astrólogo, você tem conhecimento, em nivel profissional, de tecnologia de informação?

BB – Vamos começar pela área da tecnologia de informação. Pessoalmente prefiro dividir este campo em 2 áreas distintas: cálculos e interpretações automatizadas. Em ambas as áreas a Austrália tem uma tecnologia de vanguarda que acredito que hoje supera a dos americanos. Na minha opinião os programas de Astrologia produzidos na Austrália estão entre os melhores do mundo, apesar de se valerem das bibliotecas de programação estrangeiras como “Swiss Ephemeris” e “ACS Atlas”. No que diz respeito à venda de “relatórios de interpretação” também estes têm uma qualidade excepcional e oferecem ao público um primeiro encontro com a Astrologia, sem ser necessário que a pessoa saia do seu resguardo pessoal, fazendo uma visita a um astrólogo.
Com relação ao relacionamento entre astrólogos brasileiros e australianos, a língua é um fator que limita esse intercâmbio. Infelizmente, na Austrália, as notícias do Brasil se concentram no carnaval, futebol e alguns crimes.

BA – O que você aprendeu com seu contato com a cultura australiana, em termos de concepção do trabalho astrológico, da prática diária de um astrólogo? Quais os nomes estrangeiros atuais que você considera mais afinados com as demandas do século 21?

BB -Talvez, uma das coisas que mais tenha chamado a minha atenção em todos esses anos, seja a influência do aspecto cultural em si próprio. Embora todos falem a respeito disso, o que pude observar tanto em publicações como na prática de atendimento é que existe uma Astrologia que está voltada a uma cultura predominantemente branca e anglo-saxônica e, as vezes mais especificamente, a uma cultura predominantemente americana, que não obrigatoriamente reflete os padrões comportamentais locais. Tendo tido a chance de ter muitos clientes de origem asiática, africana — e mesmo europeus, gregos, italianos, espanhóis, malteses e outros, — fica patente que alguns modelos de interpretação astrológica patrocinados hoje em dia não se aplicam indiscriminadamente a todas essas culturas. Veja que a Austrália é um país formado por imigrantes. Com relação a estrangeiros de destaque, não tenho uma opinião formada, e baseada em fatos sobre os trabalhos individuais dessas pessoas.

BA – Você também trabalhou em counselling, e obteve um importante grau de formação nessa atividade. Como ela enriqueceu sua prática astrológica?

BB – Posso dizer que foram dois os aspectos que contribuíram para o desenvolvimento do meu trabalho, que adquiri: primeiro através do estudo formal das teorias do desenvolvimento e comportamento humanos, podendo ter debates com outros colegas que não vêm a Astrologia como algo sério. E em segundo lugar a oportunidade de trabalhar como terapeuta, onde ouvir o cliente é fundamental. Sempre me refiro a isso como o astrólogo sendo uma boca enorme e o terapeuta um ouvido aberto, assim acho que o que mudou no meu trabalho é que hoje combino com maior flexibilidade o ouvir com o falar, na relação com o cliente. Meu trabalho astrológico, hoje em dia, está 100% voltado às necessidades do cliente, caminhando lado a lado com a vida real e objetiva dos clientes.

Outro fator que modificou bastante o meu trabalho foi o meu envolvimento com o que em inglês chama-se MiCBT – Mindfulness integrated Cognitive Behaviour Therapy, ou seja, Meditação de Atenção Plena (Mindfulness) integrada à terapia cognitiva-comportamental. O treinamento específico, bem como a prática desta modalidade de trabalho, também contribuiu de maneira fundamental para o formato que hoje emprego, não só no trabalho com o cliente, como também na compreensão do modelo astrológico, mas isso é um assunto muito extenso e fascinante, que fica para outra oportunidade.

BA – A seu ver, o que falta e o que sobra para o astrólogo brasileiro padrão? Considerando que você foi um dos professores de uma das mais influentes Escolas de Astrologia do Brasil nos anos 80, o que diz, do que vê agora, em seu retorno?

BB – Esta é uma pergunta difícil. Somente como uma primeira impressão recolhida através de clientes e de outros astrólogos que têm participado dos meus workshops, me parece que existe um distanciamento entre as necessidades do público e o serviço prestado pelos astrólogos. Tenho ouvido a respeito da insatisfação dos clientes quanto à linguagem comprometida com jargões, –diferentemente do conteúdo, — nas leituras astrológicas. Mas isso ainda carece de uma avaliação melhor. Seria muito triste perder esta riqueza de conhecimento que a Astrologia no Brasil produziu para um modelo pasteurizado de interpretação.

BA – No momento, você está formando profissionais na sua linha de trabalho? Onde e como? Quanto aos workshops que está fazendo na Escola Regulus de S. Paulo, como tem sido a acolhida? Você pretende levar esse trabalho formativo para outras cidades? Como os interessados devem fazer?

BB – Primeiro agradeço profundamente ao Alexandre e à Eliana, da Escola Regulus, pela acolhida carinhosa no meu retorno depois de 20 anos fora do Brasil. Adquiri um hábito de oferecer, todos os anos, um painel com várias opções de workshops para toda e qualquer organização ou grupo que tenha o interesse em promovê-los. Estou sempre aberto a estabelecer parcerias e apresentar meus workshops em qualquer estabelecimento e em qualquer cidade. No momento ainda procuro me inteirar de quais são as opções de parcerias disponíveis, e continuo estabelecendo novos contatos; tenho recebido várias consultas via meu website e também no painel da CNA.

BA – Além de pessoas e casais, você ainda acredita em que tipo de atendimento em Astrologia: empresarial, financeira, mundana.. fale um pouco sobre isso.

BB – Não, meu trabalho especificamente está voltado a indivíduos e casais. Claro que as questões mundanas, empresariais, financeiras fazem parte das vidas dessas pessoas e por conseguinte não as posso excluir como assuntos tratados com meus clientes. Mas, como disse anteriormente, a Astrologia que pratico está centrada no cliente.

BA – Você, que ajudou na elaboração do estatuto da Rede Nacional de Astrologia, o que acha da iniciativa da criação da CNA?

BB – Acho fantástico que possa existir um ponto comum entre os entusiastas e profissionais da Astrologia, principalmente em um momento onde aproximar pelas semelhanças nos torna muito mais humanos e promove a compaixão, do que pautar-se em supostas diferenças que só dilaceram os relacionamentos humanos de maneira egoísta.

BA – Se pudesse resumir em algumas palavras qual é o papel do astrólogo brasileiro no século 21, quais seriam essas palavras e o que diria a um jovem estudante?

BB – O papel do astrólogo, na minha visão, continua sendo o mesmo de milhares de anos, trabalhar para o seu cliente de forma competente, honesta, isenta e objetiva, visando a felicidade do cliente.

BA – Você pretende constituir uma nova escola nos moldes da antiga Astrocenter?

BB – No processo de Meditação de Mindfulness o momento presente é fundamental. O Astrocenter teve o seu presente naquela época. No momento não tenho a menor intenção de reviver ou re-inventar esta experiência. Foi muito gostoso enquanto durou, e sou muito grato a todos os que fizeram isso possível naquela época. O meu trabalho hoje se concentra em passar a experiência profissional que adquiri fora do Brasil para outros profissionais, e poder continuar meu trabalho com clientes, como sempre fiz.

Barbara Abramo, astrologa profissional desde 1980, estudiosa de astrologia clássica, escreveu um ensaio sobre astrologia mundana em 1994 (No ceu da Patria neste Instante), e é responsável pelo horóscopo diário da Folha de São Paulo, e horóscopo mensal da UOL desde 2000. Mantem o site Urania da Folha On Line – www.urania.com.br e toca um microblog no Twitter: twitter.com/barbarabramo. Contatos por email: [email protected]

Sobre o Autor

CNA (Central Nacional de Astrologia)
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