Antigas Verdades para Novas Consciências
A Astrologia como caminho espiritual
Quem, como eu, foi aluna do professor Waldyr Bonadei Fücher, da Escola Régulus de Astrologia, com certeza o ouviu dizer que a Bíblia é o livro mais astrológico do mundo. E ele sabia o que estava dizendo; esta passagem é um exemplo: "O brilho das estrelas faz a beleza do céu; adornam de luz as alturas do Senhor. À palavra do Santo, prontas a executar-Lhe as ordens, como sentinelas incansáveis se mantêm" (Eclesiástico,43.10 -11). Esta outra tem tudo a ver com os trânsitos astrológicos: "Para tudo há um tempo debaixo do Sol" (Eclesiastes 3. 1-8). A referência ao eixo Virgem/Peixes pode ser observada na passagem em que Jesus abençoa cinco pães e dois peixes, alimenta a multidão que o seguia, e ainda faz seus discípulos encherem 12 cestos com as sobras (Mateus 14. 18-20). O Livro de Jó, homem justo que sofreu até o limite de suas forças, mas não perdeu sua fé, nos remete aos duros trânsitos de Saturno, ou até mesmo de Plutão. Carl Gustav Jung escreveu seu livro "Resposta a Jó" durante um trânsito difícil de Saturno, segundo sua filha Gret B. Jung. Não só as histórias da Bíblia judaico-cristã começam a fazer sentido, mas os textos sagrados, filosóficos e mitos de diversas tradições, chaves para o autoconhecimento, afirmam as mesmas verdades. Começamos a ver similaridades entre as palavras de Buda, Lao Tsé, Cristo, Krishna, e a entender que tudo, enfim, provém da mesma fonte.
A Astrologia é uma das mais antigas chaves para o autoconhecimento, talvez a mais adequada delas disponível ao homem moderno. No axioma hermético "O que está acima é como o que está embaixo", nesta analogia entre Macrocosmos e Microcosmos, vemos similaridade com a mais lembrada oração cristã: "Seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu." E assim, acredito que a Astrologia tem um tremendo potencial para desempenhar um papel importante na busca do ser humano pela totalidade, que nada mais é do que a nossa re-união ao Todo.
Um dos livros mais misteriosos e ricos em simbolismo astrológico da Bíblia, com certeza, é o Apocalipse de João: "Havia diante do trono um mar límpido como cristal. Diante do trono e ao redor, quatro Seres vivos cheios de olhos na frente e atrás. O primeiro Ser vivo é semelhante a um leão; o segundo Ser vivo, a um touro; o terceiro tem a face como de homem; o quarto Ser vivo é semelhante a uma águia em vôo." (Apocalipse 4. 6-7)
Os mesmos animais citados no livro bíblico podem ser vistos no monumento egípcio conhecido como Esfinge de Gisé, uma estranha figura formada por partes de 4 diferentes animais: cabeça humana, cauda e garras de leão, corpo de bezerro, e asas de águia. Um enigma! Mas qualquer astrólogo pode reconhecer aqui os quatro signos "fixos": Touro, Escorpião, Leão e Aquário.
Historiadores têm discordado com relação à idade desse monumento. Até alguns anos atrás se pensava que tinha a mesma idade das pirâmides que ela parece "guardar" mas, recentemente, novos estudos indicaram que ela pode ter dez mil e quinhentos anos – mais do que o dobro da idade das pirâmides.
Acredito que a Esfinge é uma síntese. Talvez seus construtores, com certeza conhecedores da Astrologia, tenham desejado fazer chegar à Humanidade do futuro a mensagem contida nos elementos e qualidades desses 4 signos: Touro, Escorpião, Leão e Aquário.
A Doutrina Budista afirma que todas as coisas materiais são transitórias, impermanentes, e que todo sofrimento presente no mundo deriva de nossa tendência de apego às formas fixas, sejam objetos, pessoas ou coisas, em lugar de aceitarmos o mundo à medida que ele se move e se transforma. No Budismo, o mundo material é Samsara: o movimento incessante. A insatisfação e o sofrimento são o resultado de anseios ou desejos que não podem ser plenamente realizados, e estão atrelados ao nosso de desejo de poder.
O físico Fritjof Capra, em seu livro ‘O Tao da Física’, nos fala que: "Buda não estava interessado em satisfazer a curiosidade humana acerca da origem do mundo, da natureza do Divino ou questões desse gênero. Ele estava preocupado exclusivamente com a situação humana, com o sofrimento e frustrações dos seres humanos. Sua doutrina, portanto, não era metafísica: era uma psicoterapia. Buda mostrava a origem das frustrações humanas e a forma de superá-las". Segundo Ele, a única maneira de nos livrarmos do sofrimento é controlar os desejos, o que não significa exterminá-los, mas sim, não ser controlados por eles, nem acreditarmos que a felicidade está atrelada à sua satisfação. Desapego é a palavra-chave. O ideal budista é a moderação: em tudo devemos seguir o "dourado caminho do meio."
Sempre ouvi meu querido mestre Prof. Waldyr se referir à cruz dos signos fixos como o Caminho do Discipulado. Estabilidade, segurança, preservação e manutenção do status quo: os fixos não gostam de mudança, e nem querem ouvir falar desse tal movimento incessante… Quando tentamos reter, segurar coisas, pessoas e situações para sempre conosco, sofremos, pois estamos contrariando a ordem natural. Isso é apego. Portanto, a chave para nos libertarmos do sofrimento é o desapego.
Em Leão, signo de fogo, o apego à essência, à identidade / personalidade, à ilusão de auto- importância, ao orgulho, deve ser abandonado. Em Touro, signo de terra, o apego material, aos bens, dinheiro, ao prazer e conquistas materiais. Em Aquário, signo de ar, o apego intelectual e social, às idéias, preconceitos e conceitos de honra e desonra, a necessidade de aceitação social, dos amigos, nos fazem sofrer, enquanto em Escorpião, signo de água, o apego emocional e sentimental, apego às pessoas e coisas que amamos, e situações a que nos habituamos é o que nos tortura mais intensamente. Enfim, sofremos toda vez que perdemos alguma dessas coisas às quais temos apego, toda vez que algum desses objetos de nossos desejos é removido, tirado de nós.
A escritora e clarividente inglesa Joan Cooke enumera as lições dos elementos que a alma precisa aprender para evoluir: as pessoas de fogo precisam aprender o amor; as pessoas de terra, o serviço; as pessoas de ar, a fraternidade;. e as pessoas de água, a paz.
Aos quatro animais da Esfinge correspondem os quatro verbos cabalísticos: calar, ousar, querer e saber (v. mitos a seguir). Segundo a Cabala, estes são os verbos dos querubins que protegem a "Shekinah", ou Presença de Deus, de onde se origina a Bathkol, ou A Palavra de Deus.
Vamos agora tentar compreender melhor cada tipo de apego, através de mitos e de textos sagrados de várias procedências.
Touro
O mito de Teseu e o Minotauro
Minos, rei de Creta, pediu a Poseidon, deus do mar, que o ajudasse a conseguir a supremacia dos mares e a fazer Creta prosperar. Em troca ele sacrificaria seu mais belo touro branco em honra do deus. Poseidon, que era representado em forma de touro, atendeu ao pedido de Minos, mas este se esqueceu da promessa e sacrificou um touro de qualidade inferior. Ofendido, o deus fez com que Afrodite, deusa do amor, insuflasse em Pasífae, esposa de Minos, uma ardente paixão pelo touro branco. Pasífae uniu-se ao touro e desta união nasceu o monstruoso Minotauro, metade homem, metade touro, que só se alimentava de carne humana. Minos, com medo e vergonha, mandou construir o labirinto para esconder o monstro. Jovens eram deixados ali para que o Minotauro os devorasse. Teseu, filho de Poseidon com a princesa Etra, noiva de Egeu, rei de Atenas, resolveu enfrentar o monstro e parar com o sacrifício dos inocentes. Assim que chegou a Creta, Ariadne, filha de Minos, apaixonou-se por ele e se ofereceu para ajudá-lo se, em troca, ele se casasse com ela e a levasse com ele para Atenas. Então ela lhe deu um novelo de fio de ouro para guiá-lo no labirinto. Ele penetrou no labirinto, encontrou o Minotauro, e o matou com sua clava, saindo de lá vitorioso.
Minos pecou ao reter para si o que não lhe pertencia, ele é o tirano que se apropria dos bens coletivos e, por isso, a nação fica estagnada. O touro é um símbolo do poder que provém de Deus e tem que ser a Ele dedicado. É uma investidura. O touro não pode dirigir o homem, assim como as paixões não podem dominar o Eu. Tem que haver um ponto de equilíbrio na relação entre o ego e os instintos, a grosseria e a graça. O mito destaca o poder do desejo como a força dominante – desejo por comida, bebida, conforto, sexo, status, dinheiro, etc. O labirinto significa o inconsciente, o turbilhão das emoções humanas e a fera que habita em seu interior. O fio de Ariadne representa a sabedoria.
"Pilatos então lhe disse: Tu não me respondes? Não sabes que tenho poder para te soltar e para te crucificar? Respondeu Jesus: Não terias poder algum sobre mim, se de cima não te fora dado. Por isso, quem me entregou a ti tem pecado maior." (João 19. 10-11)
Touro, signo de terra, é a matéria. Rege a boca, por onde falamos e nos alimentamos. É o Verbo Divino, que traz à existência, que materializa tudo o que a mente, divina ou humana, concebe.
"No principio era o Verbo…" (João 1.1)
"Ouvi e compreendei. Não é aquilo que entra pela boca que mancha (faz o homem impuro) o homem, mas aquilo que sai pela boca, isso é que faz o homem impuro." (Mateus 15. 11)
O que importa é o que vem de dentro do coração, e não o que entra dentro de nós. Viver e usar a matéria não contamina o espírito.
O verbo relacionado a Touro é Calar, controlar, estar no comando, ou dominar a natureza material, é a tarefa mais difícil que o ser humano deve realizar, pois a posse material gera o apego, donde provém o ciúme, a inveja, a cobiça etc.
Escorpião
O mito de Hércules e a Hidra de Lerna
A Hidra era um monstro terrível que habitava numa caverna e infestava um pântano insondável. O monstro era uma serpente gigantesca com nove cabeças, sendo que uma era imortal. Seu hálito fétido era capaz de destruir toda a vida ao seu redor, inclusive os rebanhos e as colheitas do lugar. Hércules usou flechas incandescentes para forçar o monstro a sair da caverna. O animal, enfurecido, tentava atingi-lo com sua cauda, mas ele se esquivava e golpeava as cabeças do monstro. A cada cabeça cortada, surgiam duas outras em seu lugar.
A luta prosseguiu até que Hércules se lembrou das palavras de seu mestre: é ajoelhando que nos elevamos e é nos rendendo que triunfamos. Então ele se ajoelhou e ergueu o monstro da água para a luz do sol. Conforme a luz batia sobre a Hidra, ela encolhia cada vez mais, até cair sem vida. Só a cabeça imortal ainda se agitava. Então Hércules a cortou e em seu lugar surgiu uma jóia.
O pântano onde habita a Hidra é a mente. Cada vez que uma cabeça é decepada outras duas aparecem. Acontece o mesmo com os pensamentos negativos, quando afastamos um, outros tomam seu lugar. Erguer o monstro no ar significa expor a fera interior à consciência, à razão, examiná-la à luz da sabedoria e do pensamento elevado. Assim, as respostas aos nossos problemas, muitas vezes vêm, quando buscamos um novo ângulo, uma nova perspectiva. Uma das cabeças contém uma jóia, ou seja, toda a dificuldade, por pior que seja, contém em si algo de inestimável valor, um dom, uma fonte de poder.
Escorpião, signo oposto a Touro, significa o Espírito, o que não tem forma. Aqui aparece em seu aspecto mais transcendente, a águia, simbolizando a vitória sobre as paixões, ou natureza animal propriamente dita. O verbo correspondente é Ousar. Ousar enfrentar a matéria, ultrapassá-la e vencê-la, divinizando-a, sem rejeitá-la, porque fora do plano material não existe evolução. O apego material é que nos mantém presos à Roda dos Renascimentos e Mortes.
"Aquele que conhece os outros é sábio; mas quem conhece a si mesmo é iluminado! Aquele que vence os outros é forte; mas aquele que vence a si mesmo é poderoso!" (Tao Te King, cap. 33; Lao Tsé)
A tarefa mais difícil para o ser humano é governar a si mesmo. Ainda temos que vencer a Hidra, a matéria é o campo de batalha onde evoluímos. O desafio é fazer com que a mente, a emoção e a natureza física funcionem como uma unidade. Quando achamos que já superamos nossos instintos, eles nos surpreendem. Temos que mostrar a nós mesmos que a matéria não pode nos deter no caminho que já iniciamos. Sem a experiência física não podemos ter contato com o Divino, até porque Deus está no nosso próximo, na natureza. Tudo depende do tipo de relação que mantemos com o mundo material: se de apego ou de desprendimento.
"Não ajunteis para vós tesouros na Terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões cavam e roubam. Ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não cavam nem roubam, porque onde está o teu tesouro, lá também está teu coração." (Mateus 6.19-21 e Lucas 12.33-34)
Desenvolver dons espirituais, não amarrar nossa felicidade na matéria que é transitória, mas nas coisas do mundo do espírito, eis a receita da paz emocional. Quem se apega a suas posses materiais perde a paz quando fica sem elas. Se guardarmos bens espirituais, ninguém nos poderá tirá-los.
Calar – Ousar (Eixo Touro/Escorpião)
Fora da experiência material não existe evolução. É na luta diária na matéria que conquistamos a consciência. É fácil ser santo longe das tentações ou, como dizia o meu caro Prof. Waldyr: "É na guerra que se ganham medalhas…"
Leão
O mito de Parsifal e o Rei do Graal
O Graal, um objeto misterioso, sustentador e preservador da vida, é guardado por um rei doente num castelo difícil de se achar. A região em volta do castelo está devastada. O rei e a terra só se recuperarão se um cavaleiro perfeito, de nobres virtudes, encontrar o castelo e, ao ver o que nele há, faça uma determinada pergunta. Se ele não o fizer, tudo vai continuar como está, o castelo vai desaparecer e o cavaleiro terá que iniciar uma nova busca. Se ele for bem sucedido, o rei sara, a terra floresce e ele se torna o novo guardião do Graal.
Parsifal, criado pela mãe num bosque isolado, um dia vê passarem cinco cavaleiros e resolve seguir com eles, sem ao menos despedir de sua mãe, que acaba morrendo de desgosto. Na viagem, briga com o cavaleiro vermelho e o mata. Encontra uma donzela em apuros, apaixona-se e se inicia sexualmente com ela, mas acaba abandonando-a, tal como fez com a mãe. Chegando a um rio profundo e sem passagem possível, ele vê um pescador que lhe indica o caminho para o castelo. No mesmo instante, do rio emerge o castelo, e ele entra. O rei estava ferido na coxa ou na virilha, dependendo do narrador. Então ele tem a visão de uma espada, uma lança gotejando sangue, uma moça trazendo um Graal de ouro cravejado de pedras preciosas e outra moça com uma bandeja de prata. Ele permanece em silêncio e não ousa dizer nenhuma palavra enquanto vê os objetos. Vai dormir e, quando acorda, o castelo está deserto. Ao sair encontra uma mulher que lhe diz que ele fracassou, pois não fez a pergunta. Parsifal vai embora e passa por muitas aventuras e muito sofrimento, o que lhe confere sabedoria e compaixão. Só então é capaz de reencontrar o castelo, ver o Graal e fazer a pergunta fatal: — a quem serve o Graal? Ao som destas palavras, o rei fica curado e revela ser seu avô. A terra floresce novamente e ele se torna o guardião do Graal.
A prova de Parsifal não é nenhum feito heróico, apenas uma pergunta, significa a capacidade de se tornar consciente do significado das coisas, uma qualidade de reflexão que tem que ser adquirida. Criado sem pai, Parsifal busca esse princípio masculino na aventura de sua vida. Ele é uma criatura indiferente e insensível, pois mata alguém por puro exibicionismo e não liga para o amor, tanto da mãe, quanto da namorada. Ele é egoísta, mas é um rei, apenas ainda sem o verniz da realeza. Só os sofrimentos e as desventuras da vida lhe conferem a maturidade e o sentimento de compaixão pelo sofrimento alheio, que o fazem pronunciar a pergunta. O rei já curado, é seu avô, um pai de ordem superior ou divina.
A pergunta: A quem o Graal serve, implica na existência de algo ou alguém superior, poderoso, digno de ser servido; esse alguém é o Pai Celeste, o doador da vida, adorado como Sol, cuja fonte de amor e compaixão é representada pelo Graal.
O Graal é um símbolo feminino, pois é capaz de conter algo como a mãe contém o filho em seu ventre. É portanto um símbolo lunar. A Lua reflete a luz do Sol, e o Graal serve ao Sol espiritual, ou seja, a Deus. Isso implica que o sacrifício ou sacro-ofício que o Graal preconiza é o sacrifício da personalidade, o aspecto lunar. Parsifal está deixando de viver como um ego e inicia a jornada rumo ao self, a individualidade integrada.
Leão, signo de fogo, regido pelo Sol, na Esfinge é a cauda e as patas, onde estão as garras. Simboliza a individualidade. O Sol é o coração do mapa. E por ser coração é também o Amor. Sendo Leão oposto a Aquário, signo da Fraternidade, indica que é preciso transformar o Amor Próprio em Amor ao Próximo, que deve haver equilíbrio entre individual e coletivo, tal como as células que, apesar de terem consciência individual, atuam de forma global dentro do organismo maior, que é o nosso corpo.
Leão é querer. Querer entendido como Vontade. Quando rezamos ‘Seja feita a Vossa Vontade’, estamos concordando em que as vontades individuais não devem prevalecer sobre a Vontade de Deus e a Vontade de Deus é o Bem da Humanidade, que deve nortear toda a ação do ser humano autoconsciente.
"Porque todo aquele que se exaltar será humilhado, e todo aquele que se humilhar será exaltado." (Lucas 14. 11)
"Todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós, se faça vosso servo, e o que quiser tornar-se o primeiro dentre vós se faça vosso escravo, assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para dar a sua vida em resgate de muitos." (Mateus 20. 26-28)
O Sol é um símbolo do Espírito, da consciência e da vontade. Quando desconectado da natureza superior, ele é conhecido como Ego e, associado à personalidade, ao orgulho, à tirania e ao egoísmo. Quando está conectado com a unidade da vida universal, é conhecido como Self. Este último tem a ver com o conceito de livre-arbítrio, com o querer. Só então o amor próprio pode se transformar em amor ao próximo.
Aquário
O mito de Prometeu
Prometeu era descendente dos primeiros Titãs. Seu nome significa "o previdente", aquele que vê antes. Tinha um irmão gêmeo, Epimeteu, que significa aquele que vê depois. Como viu que Zeus venceria a batalha contra os titãs, resolveu ficar do lado dele e ganhou o direito de ir e vir do Olimpo. No entanto, sentia rancor pelos destruidores da sua raça e procurava favorecer os homens sempre que podia. Um dia Prometeu enganou Zeus, que ficou furioso com ele. Por castigo, decidiu privar os homens do uso do fogo. E Prometeu foi condenado a viver na terra, entre os humanos que ele tanto protegia. Sem fogo, os homens começaram a passar frio e fome. Prometeu então, pediu ajuda à deusa Atena, sua protetora, para que o ajudasse a entrar secretamente no Olimpo. A deusa, que havia lhe ensinado as artes da Arquitetura, Astronomia e Curativas, que ele transmitiu à humanidade, mais uma vez o ajudou. Ao chegar ao Olimpo, ele acendeu uma tocha no carro de fogo do Sol e levou-a para a Terra, escondida num caule ôco de arvore, e a entregou aos homens. Zeus então resolveu se vingar pedindo a Hefestos, o ferreiro, que criasse uma mulher de barro. Os quatro ventos sopraram vida nela e todos os deuses a enfeitaram. Chamava-se Pandora. Ela foi mandada como presente de Zeus a Epimeteu, o irmão de Prometeu. Mas, avisado pelo irmão para não aceitar o presente de Zeus, aquele recusou a mulher. Zeus então acorrentou Prometeu, nu, no alto da montanha do Cáucaso, onde dia após dia, um abutre vinha lhe bicar o fígado, que à noite se refazia, tornando o sofrimento interminável. Epimeteu, alarmado com a sorte do irmão, aceitou casar-se com Pandora. Ela abriu uma jarra que Prometeu tinha advertido para deixar fechada onde, com muito esforço, ele havia aprisionado todas as pragas que poderiam atormentar a Humanidade: Velhice, Fadiga, Doença, Insanidade, Vício e Paixão. As pragas fugiram numa nuvem e atacaram a raça humana. A tímida Esperança, entretanto, retida na jarra, impediu com suas mentiras, que os homens cometessem suicídio coletivo.
O impulso de ajudar a humanidade, presente em Prometeu, é próprio de Aquário. Prometeu redime a humanidade da escuridão da ignorância, ensinando as artes e as ciências. A perda do direito de usar o fogo simboliza a perda do direito à razão, ao conhecimento e à liberdade. Prometeu, como um perfeito aquariano, identifica-se com o seu grupo – a humanidade – e se preocupa com seu bem-estar e desenvolvimento, ensinando-lhe tudo o que aprende com a deusa Atena. Ele se arrisca para dar aos homens o fogo criativo mas, do ponto de vista dos deuses, ele comete um pecado. Muitas vezes, quando o ser humano faz qualquer esforço rumo à elevação da consciência, ele também sente que está cometendo um pecado: que está entrando no território dos deuses.
No livro do Gênesis, Deus proíbe ao homem comer do fruto da arvore do conhecimento. Parece haver relação entre a figura de Zeus, ciumento das aquisições humanas e o Deus bíblico, que também proíbe o acesso do homem ao conhecimento do Bem e do Mal. Pode ser que o preço a ser pago pelo homem, como no mito de Prometeu, seja muito grande, talvez seja a dor da solidão, do isolamento que parece atingir aqueles que já não são mais como os outros homens, mas também não são como os deuses. Eles habitam um mundo à parte. Todos os campos de atividade tipicamente aquarianos como a ciência, invenção, assistência social, Psicologia, até a Astrologia, são acompanhados pela solidão. Parece ser o preço pago por se ofender aos deuses.
Aquário, signo da Ciência, da Intuição e dos ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, é a cabeça da Esfinge, indicando que o conhecimento deve ter como propósito o Bem comum, o interesse coletivo, o que só é possível quando esse conhecimento, o Saber, se transforma em Sabedoria. Lembremos que o antigo regente de Aquário é Saturno, indicando a sabedoria que se adquire com o tempo e com a experiência.
"Ninguém acende uma lâmpada e a cobre com um vaso ou a põe debaixo da cama; mas a põe sobre um castiçal, para iluminar os que entram. Porque não há coisa oculta que não acabe por se manifestar, nem secreta que não venha a ser descoberta. Vede pois, como é que ouvis. Porque ao que tiver, lhe será dado; e ao que não tiver, até aquilo que julga ter lhe será tirado." (Lucas 8. 16-18)
A primeira frase fala sobre a responsabilidade de indicar o caminho aos irmãos menores. A última significa que quanto mais recebemos de Deus, mais aumenta a nossa responsabilidade e o dever de trilhar o reto caminho.
Fraternidade é nos sentirmos filhos de um mesmo Pai.
Mas esse sentimento só existe quando há AMOR. O Sol é a mais alta expressão do Amor: Amor Desprendimento, Amor Doação, Amor Vida. O Sol brilha sobre bons e maus, justos e injustos, e a ninguém se nega; pois Amor que se guarda, que não se derrama, não é Amor, é egoísmo.
"Respondeu-lhe Jesus: Todo aquele que beber desta água tornará a ter sede. Mas o que beber da água que eu lhe der jamais terá sede. Pois a água que eu lhe der virá a ser nele fonte de água jorrando para a vida eterna." (João 4. 13-14)
A água que é inesgotável é a conexão com a fonte de toda a vida, ou seja, o Pai Celestial. Aqui vemos um símbolo de Aquário, o aguadeiro, que despeja a água a todos os que dela necessitam.
Querer – Saber – (Eixo Leão/Aquário)
O ser humano precisa querer acessar o seu Sol. Nosso papel no mundo tem a ver com nosso Sol. O signo em que se encontra o Sol indica a missão pessoal, nosso papel no mundo, o propósito individual que estamos tentando manifestar em nossas vidas para revelar nossa verdadeira natureza, nossa individualidade, nosso poder pessoal, vontade, vitalidade, e expressão criativa.
Quando a consciência de ser separado (EGO), se transforma na consciência de pertencer a algo maior do que nós mesmos (SELF), isso é Individuação: não nos identificamos mais com aquilo que nos separa do outros, com as nossas particularidades, mas sim com o que é essencial em nós, livre da máscara da personalidade, que é nossa humanidade. A diversidade brota da consciência da unidade. Universo é o verso d’Aquele que é Uno. Eu e o Pai somos um. Quem é um com o Todo, é tudo!
Na grande maioria dos mitos antigos, o Herói Solar tem que enfrentar grandes perigos e desafios, antes que possa retornar, purificado e vitorioso, para receber sua recompensa. Durante a jornada, vai desenvolvendo suas qualidades e recebendo alguns dons:
Por seu desprendimento (Touro), simplicidade e amor (Leão), ele conquista dons espirituais
(Escorpião), que devem ser usados para servir à Humanidade (Aquário).
Conclusão
"Torna-te aquilo que és por natureza" (Píndaro)
A trajetória humana é uma jornada em busca da consciência. Adquirir consciência é mais ou menos como ser uma célula do nosso corpo que sabe que é uma célula de pele ou de fígado, mas que, acima de tudo, é parte desse corpo.
A diversidade brota da consciência da unidade. Uni – verso é o verso d’Aquele que é Uno.
"Eu e o Pai somos um." Quem está unido ao Todo, é tudo. Isso é Individuação. Segundo Jung, Individuação é o processo de tornar-se si mesmo, ou o nascimento da Vontade de Deus no indivíduo. Eu acrescentaria que é a descoberta da resposta às perguntas: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos?
O arcano 21 — O Mundo – uma das melhores cartas do Tarot, tem entre seus significados a vitória, plenitude, realização. Não por acaso, podemos ver na sua iconografia os mesmos quatro animais da Esfinge.
"Tenho-vos dito estas coisas, para que em mim tenhais paz. No mundo tereis tribulações; mas tende bom animo, eu venci o mundo." (João 16. 30)
Os signos fixos indicam um caminho, o caminho de volta à casa do Pai. Como dizia Santo Agostinho: "Viemos da Divindade e para ela havemos de voltar". Enquanto caminhamos, como o arcano O Louco do Tarot, devemos ser como um viajante sem casa, que tem um lar em cada lugar, um irmão em cada homem e Deus acima de tudo.
"O amor e o ódio não podem tocá-lo. Os ganhos e perdas não podem afetá-lo. A honra e a humilhação não podem danificá-lo. Por isto é considerado o mais nobre sob o céu." (Tao Te King, cap.56).
A Esfinge de Gisé é uma mensagem cifrada, repleta de simbologia sagrada. Nem todos podem compreender essa mensagem dentro daquele mesmo espírito do "Não atireis pérolas aos porcos…" O conhecimento sagrado deve ser apreendido por aqueles que fazem jus a ele. Ainda aqui relembro as palavras de meu querido mestre, Prof. Waldyr : – "A Astrologia não é para quem quer, é para quem merece." Nessa afirmação não há arrogância, mas o seu espírito de reverência para com esse conhecimento sagrado e ancestral, a que ele dedicou os melhores anos de sua vida, que é a Astrologia. Astrologia que é uma das mais perfeitas chaves para a compreensão: de si mesmo, e do caminho que leva à religação do homem com seu Criador – o verdadeiro RELIGARE.