As Bases da Astrologia Védica

atualizado em 12/01/11

por Evêncio Mendes

A Astrologia Védica é um sistema que integra outras ciências como o Ayurveda, Yoga e religião, ou seja, um mapa astrológico védico tanto oferece indicações sobre o destino, bem como a constituição física, preferências, vocação, caminho a seguir e maturidade espiritual e também práticas aconselháveis para correção de desarmonias que possam levar a um grande sofrimento.

O principal foco da Astrologia Védica é corrigir ou remediar situações, e para isso se utiliza toda uma serie de correlações entre planetas com metais, pedras preciosas, cores, plantas, oferendas a divindades e mantras.

Como a diversidade cultural dentro da própria Índia é muito grande, a forma de lidar com a Astrologia apresenta grandes diferenças. Por exemplo, em se tratando de uma pessoa nascida em uma familia que consulte Astrologia Védica, seus pais já em sua infância podem aplicar medidas preventivas e harmonizar tendências negativas. Pode ser difícil ou estranho para os ocidentais a idéia de que rituais de oferendas (Pujas), que são os equivalentes a missas religiosas da religião ocidental, possam ser realizados por um monge em um templo, com o objetivo de contrabalançar um desvio da inteligência do nativo por algum aspecto tenso de Mercúrio.

É importante salientar que a inteligência interpretada pelo horóscopo ocidental vai ser vista de modo completamente diferente na Astrologia Védica. Nela, um desvio de inteligência indica a tendência a querer se aproveitar maliciosamente de oportunidades, levando a escolhas errôneas — e automaticamente ao sofrimento. O astrólogo védico pouco vai se importar em descrever traços sagitarianos, virginianos ou geminianos para interpretar o problema; desde que ele tenha sido identificado, o que importa a seguir é corrigir ou remediar.

Neste ponto cabe salientar que normalmente as interpretações de mapas védicos não são acompanhadas de longa interpretação astro-psicológica como pode acontecer no Ocidente. Na verdade, o formato de uma interpretação védica é muito diferente da ocidental. Alguns astrólogos ocidentais que praticam também a Astrologia Védica usam o mapa ocidental para interpretar a personalidade e o mapa védico para prever acontecimentos.

As origens históricas da Astrologia Védica se perdem no tempo. Um exemplo disso é que uma obra muito antiga da literatura hindu, que remonta a mais de 5 mil anos, o Ramayana, onde o tema principal é o registro histórico da vida de Rama , descrevendo o seu horóscopo. Outra obra igualmente importante, que é rica em registros astronômicos e astrológicos é o Mahabharata, que descreve a historia de Krishna. Estima-se que Krishna tenha vivido por volta dos anos 750 AC. Parasara, um dos personagens do Mahabharata, é um sábio misterioso com poderes igualmente misteriosos, é também o autor da obra mais importante da Astrologia Védica. Acredita-se que ele tenha vivido por volta do ano 850 a.C. Ou seja, sua obra remonta a mais de 2.850 anos.

Características de um mapa astrológico hindu

Uma característica na Astrologia Védica de hoje é o da correção da precessão dos equinócios, chamada Ayanamsha, que é uma correção que desloca todos os planetas do mapa ocidental em cerca de 23 graus no sentido contrário, ou seja retrogradando. Existem varias correntes que sustentam diferentes arcos de correção de precessão, variando entre 21 graus a 25 graus para as posições dos astros no ano 2000. Não cabe neste artigo descrever e argumentar sobre esse tema.

As Casas correspondem sempre a um signo inteiro. A Casa inicial é determinada pelo Ascendente, não importa em que grau este se encontre e sempre a Primeira Casa incluirá o Signo inteiro e as casas seguintes serão definidas pela seqüência dos signos.

Os aspectos são medidos por signos e não por graus como na Astrologia ocidental, e não contêm em si uma natureza positiva ou negativa. Isso será determinado pela natureza dos planetas envolvidos, e conforme as Casas são regidas e ocupadas pelos astros.

Quando um planeta forma aspecto com outro, o aspecto é identificado pelo número de Casas que um planeta dista do outro. E este é o conceito mais difícil de um astrólogo ocidental substituir, ao estudar Astrologia Védica.

Além dos 12 Signos que são divisões solares, na Astrologia Védica temos a divisão do Zodíaco em 27 partes, que correspondem ao Zodiaco Lunar. Esses 27 setores são chamados de Nakshatras ou simplesmente estrelas, porque cada Nakshatra tem uma estrela fixa como referência simbólica para marcar seu inicio. Os 27 Nakshatras são divididos em 9 regências planetárias, incluindo os 7 planetas básicos e os Nodos, na seguinte ordem: Nodo Sul, Vênus, Sol, Lua, Marte, Nodo Norte, Júpiter, Saturno e Mercúrio.

Bases espirituais

Para muitos na Índia, a Astrologia não é apenas um estudo ou uma profissão, mas também um caminho espiritual, com iniciação e prática diária de meditação. Algumas pessoas se encaixam tão bem neste modelo de vida que, ouvindo seus conselhos diante de um mapa, percebemos que são verdadeiros sacerdotes-astrólogos e que, com a prática, acabam conhecendo uma variedade de detalhes sobre divindades, mantras e preparações de remédios astrológicos.

Alguns textos antigos nos sugerem que, para estudar e trabalhar com Astrologia Védica, devemos ter certas qualidades e virtudes, ou seja, não deveriamos repassar este conhecimento para quem não tenha os pré-requisitos. Isso demonstra que há muito tempo os sábios da Índia já tinham um código de ética bem exigente. Em outras palavras, devemos ter uma moral elevada para ser aceitos em uma Escola de Astrologia; e uma pessoa de moral elevada é uma pessoa de estatura espiritual em qualquer cultura em que ela se encontre, mesmo que não tenha interesses religiosos. Cabe aqui lembrar que B.V. Raman, um dos grandes nomes da Astrologia Védica, dizia que para aprendê-la deveríamos meditar, conforme ele mesmo praticava. O astrólogo K. N. Rao, famoso até hoje por várias previsões acertadas de terremotos, também teve seu Guru de mantras. E o astrólogo Sanjay Rath foi um sábio e erudito nas Escrituras, além de fundador de uma escola que inclui ensinamentos espirituais e meditação.

Até hoje algumas linhagens da Astrologia Védica se preservam da vista pública, repassando o conhecimento de mestre a discípulo, e só temos conhecimento desses ramos devido ao depoimento de alguns raros que tiveram contato com eles. B. V. Raman comenta que, ao peregrinar por cidades sagradas, encontrou uma pessoa que interpretou seu mapa maravilhosamente, confirmando eventos do seu passado e deixando previsões do futuro. K. N. Rao também descreve alguns incidentes raros de contato com pessoas portadoras de conhecimento incomum.

Escolas de Astrologia Védica

Parasara é a maior autoridade de Astrologia Védica até hoje. A data de sua existência física e a produção de sua obra perdeu-se no tempo. Mas com certeza é anterior a sri Krishna, o que pode indicar que ele viveu há mais de 2.850 anos de nossos dias. Alguns afirmam que a obra de Parasara teve contribuições ao longo do tempo, devido à mudança de estilo de escrita em certas partes da obra. Os pontos principais dos ensinamentos de Parasara são os seguintes:

Mapas Divisionais

Parasara ensina uma forma de dividir o mapa em partes, dando origem a 15 novos mapas, chamados de mapas divisionais. Esses mapas divisionais foram a fonte de inspiração dos mapas chamados harmônicos, porém alguns mapas divisionais têm regras de construção diferentes dos mapas harmônicos. Por exemplo, no mapa divisional de fator 9, cada signo é dividido em 9 partes de 3 graus e 20 minutos de arco, sendo que cada uma destas partes corresponde a um “microsigno”. Se um planeta está em Áries, porém em um grau que corresponde a outro signo Navamsha, este planeta é transportado para outro mapa naquele útimo signo. Depois de transportados todos os demais planetas, forma-se o Mapa D-9 ou Navamsha, onde são deduzidas informações de ordem espiritual e sobre o casamento.

Yogas ou combinações planetárias – O estudo das combinações planetárias é o estudo mais longo que um astrólogo védico tem, pois são incontáveis yogas: um yoga pode ser um planeta em um signo ou um aspecto entre planetas, ou um conjunto de posições e aspectos planetários. Por exemplo ensina 32 Nabhasa yogas mas adverte que na verdade exitem 1800 do mesmo tipo, nabhasa yoga é uma combinação de formação como planetas em signos cardeais ou fixos, etc..
Ascendentes especiais: Parasara sugere muitos outros ascendentes complementares à interpretação e previsão. Por exemplo, o Ascendente horário ou Hora Lagna irá indicar a fonte de entrada de dinheiro do nativo.

Dashas ou sistemas de previsões: Existem dois métodos de previsões, um por períodos planetários e outro de signos. Parasara ensina em sua obra mais de 44 sistemas, sendo que um deles se destacou como o mais eficiente de todos: o Vimshotari. Este é um método planetário, onde a Lua, de acodo com a constelação ou Nakshatra que ocupa no momento do nascimento, vai determinar em que parte de um grande ciclo uma pessoa nasceu. Se a Lua se encontra no inicio de um Nakshatra, então em seus primeiros anos de vida ocorrerão eventos relacionados ao planeta regente do Nakshatra da Lua do nascimento. Este grande ciclo é desmembrado em 9 subciclos também planetários, de forma que cada evento da vida de uma pessoa pode ter até 5 planetas diferentes atuando nas características e intensidade do evento. Cada um dos nove planetas corresponde a um grande ciclo de 6 a 20 anos, na seguinte ordem: Nodo-Sul 7 anos, Vênus 20 anos, Sol 6 anos, Lua 10 anos, Marte 7 anos, Nodo-Norte 18 anos, Júpiter 16 anos, Saturno 19 anos, Mercuri 17 anos.

Ashtakavarga: É um sistema que funciona conforme as relações interplanetárias alcançam uma pontuação positiva ou negativa para cada planeta nas Casas. Esta pontuação oscila de de 0 a 8 pontos e é a base para previsões quanto às realizacões que uma pessoa pode esperar em determinados assuntos da vida, de acordo com as Casas que têm mais pontuação ou menos. Este é um sistema ainda muito enigmático, embora Parasara mencione que, devido à sua simplicidade, é o mais adequado e fácil nos tempos atuais.
Gochara ou Transitos: Quase nada é dito na obra de Parasara sobre trânsitos. Em outras obras temos algumas indicações, porém de forma extremamente resumida. Recentemente alguns pesquisadores acrescentaram teorias mais sólidas de como usar os trânsitos, baseando-se no mapa natal, Navamsha e um outro mapa divisional que corresponda ao assunto em questão. Os planetas que correspondam ao período atual ( Dashas ) e subperíodos devem ser analisados no mapa natal para encontrar tamto as correspondências de atuação, quanto quais as Casas envolvidas e outros planetas. Uma vez definido no mapa natal o campo de atuação, o mesmo deve ser feito no mapa Navamsha e no mapa divisional em questão. O segundo passo é verificar os trânsitos de Júpiter e Saturno nos três mapas acima. Depois, os planetas dos períodos atuais em trânsito devem ser transportados para o mapa natal e para o mapa divisional em questão. A conclusão desta análise vai mostrar a intensidade e abrangência dos trânsitos.

Longevidade: Alguns Dashas mencionados acima são específicos para determinação da longevidade ou o período de morte física. Existem técnicas especificas para determinar a duração da vida.
Evêncio Mendes é astrólogo védico e profissional da área de informática.

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