Estrelas esquecidas: a redescoberta do "Astronômica" de Manilius

12 de janeiro de 2011 Astrologia Clássica, Vertentes Astrológicas Comentários desativados em Estrelas esquecidas: a redescoberta do "Astronômica" de Manilius

niversidade de Colúmbia, Nova York, 24-25 de outubro de 2008

Organizado por Katharina Volk ( Columbia ) e Steven Green
( Leeds )

 Roda do zodíaco: mosaico de uma sinagoga do século VI, Beit Alpha, Israel

Uma grande conferência internacional sobre a “Astronômica”, de Manilius, a primeira no mundo de fala inglesa, será realizada na Universidade de Colúmbia entre 24 e 25 de outubro de 2008.

A “Astronômica”, de Manilius é um poema estóico didático sobre Astrologia em cinco volumes; acredita-se que tenha sido composto entre os anos de 9 e 16 d.C. sob Augusto e Tibério. O poema oferece grande oportunidade para um amplo estudo acadêmico em termos de estilo e intertextualidade (NT: um diálogo entre textos), de fundamento filosófico, intelectual e sócio-político. Ainda assim, com poucas e notáveis exceções, o poema foi solenemente ignorado, especialmente pelos acadêmicos de língua inglesa, cujo silêncio poderia sugerir submissão ao antigo ponto de vista de que a “Astronômica” é de difícil leitura e digestão e/ou cheia de contradições e omissões e erros astrológicos.

A conferência quer trazer de volta esse negligenciado poema ao centro acadêmico e reunirá um painel internacional de latinistas, historiadores da ciência e especialistas em recepção para mostrar o autor e sua obra a partir de vários ângulos diferentes.

O encontro será gratuito e aberto ao público. Com exceção dos palestrantes, os demais participantes terão que tomar sua próprias providências quanto às acomodações.

A conferência está sendo patrocinada pela generosidade de Marvin Deckoff.

Se tiver alguma pergunta sobre o encontro, por favor, envie um e-mail para os organizadores nos endereços:

Katharina Volk ([email protected])
Steve Green ([email protected])

Cosmo e império: as digressões de “Astronômica”

(1.758-804, 3.443-482 e 4. 585-805)

Todo acadêmico conhece a importância da digressão na poesia didática, mas, com exceção do epyllion (NT: curto poema épico narrativo) de Andromeda (5.538-618, sobre o qual existe extensa bibliografia) e, em menor escala, a Via Láctea (Landolfi:1990), a digressão dos primeiros quatro livros de “Astronômica” recebeu bem pouca atenção. O objetivo desta tese será propor uma nova interpretação de 1.758-804, 3.443-482 e 4.585-805 (Abry, 2000), primeiro questionando a possível relação com as três grandes realizações do Principado (Romano) de Augusto (o Forum Augustum, o Solarium Augusti, atualmente conhecido como Obelisco de Montecitório, e o mapa do mundo de Agripa, ou “Porticus ad Nationes“), depois argumentando que as digressões dos livros 1 e 4 são formuladas da mesma maneira, com um clímax paralelo entre a “família dos Júlios” e o destino de Roma. Esta análise mostra um grande comprometimento com o discurso de Augusto, ainda que Manilius, ao contrário de Ovídio, não faz menção alguma a esses monumentos. Serão propostas algumas razões para esse silêncio.

Digressões, intertextualidade e ideologia no poema didático: o exemplo de Manilius

Um traço característico do gênero didático é a inclusão de digressões como se fossem peças de um cenário, diferenciadas mais ou menos claramente do material expositivo adjacente. Junto com as passagens descritivas que freqüentemente aparecem no início e no fim de livros ou poemas, tais digressões têm sido normalmente consideradas pelos críticos como floreados ornamentais, feitos para alterar a textura poética do trabalho e para agir como uma espécie de marcador de pontuação, que dá ao leitor ou estudante uma pausa na lição didática. Este ensaio vai argumentar que tais digressões podem na verdade ser vistas como parte da essência ideológica do poema didático, servindo como uma espécie de local de intenso entrosamento intertextual com trabalhos mais antigos da mesma tradição.

Seguindo esta linha de interpretação que vê a intertextualidade como fundamental para a construção de um sentido e a formação e desenvolvimento do gênero, o ensaio vai explorar três passagens dos Livros 1 e 3 da “Astronômica” de Manilius, em relação a uma série de intertextos (textos literários já existentes em relação a outros textos) didáticos. O trabalho começa com uma breve história da civilização, localizada no prefácio ao Livro 1 (66–112). Alguns acadêmicos (como Lühr, 1969, Effe, Romano) observaram conexões literais tanto com “DRN” (“De Rerum Natura“), de Lucrécio, como com as “Geórgicas”, de Virgílio, mas estudos anteriores tinham tendência a considerá-las ecos de um único predecessor didático, interpretando-as como influência direta ou, no máximo, como oppositio in imitando (substituição de um termo original por outro de sentido oposto). Pode se argumentar que variações sobre o tema do “Mito das eras” são básicas e recorrentes no gênero, a partir de Hesíodo, e revelam uma forte tendência ao entrosamento mútuo em um nível ideológico, tanto que a variação de Manilius sobre o tema deve ser compreendida efetivamente como uma resposta a toda a tradição – não apenas aos predecessores imediatos romanos do poeta. Pode-se dizer que Manilius (e seu leitor) receberam o “Mito das eras” de Hesíodo como uma combinação complexa, modificada por camadas cumulativas de comentários adquiridas ao longo dos trabalhos de Empédocles, Aráteno, Lucrécio, Virgílio e Ovídio. Desta forma, a história da civilização serve como um meio para o poeta situar seu trabalho em relação à estrutura moral, filosófica e (num sentido mais amplo) política: a maestria de Manilius na tradição didática surge simultaneamente a e se apresenta implicitamente como análoga à superioridade do mundo físico, empregada pelo deus (estóico) e seus líderes ou chefes como contrapartida terrena.

Uma análise detalhada desta passagem será complementada por uma breve discussão de mais duas digressões. Goold observa, a propósito do último tópico do primeiro livro, cometas e meteoros, que sua “relevância astrológica é insignificante”, ainda que a noção de que cometas possam agir como presságios de desastres dê a Manilius outra oportunidade de um estreito entrosamento intertextual com seus predecessores, em especial com “A peste de Atenas”, de Lucrécio e a parte final das “Geórgicas 1” (Astr. 1.874–926; discussões existentes –Lühr 1973, Landolfi –tende a interpretar também esses ecos em termos tradicionais de influência/reação a modelos específicos). Descrições das estações são outra virtual sine qua non do gênero, representadas em “Astronômica” por uma curta série de vinhetas em 3.625–67: também aqui ecos intertextuais podem ser vistos com complexidade considerável e peso temático que parecem, à primeira vista, uma mera passagem decorativa. Em todos esses casos, a integração que Manilius promove das vozes díspares das tradições pode ser vista como um espelho, em um nível metapoético, refletindo a ordem e a interligação do cosmos descrito pelo poema.

A poética e a política da ausência horoscópica na “Astronômica” de Manilius

Este ensaio argumenta que a dificuldade para se compreender Manilius não é algo que deve nos deixar – a nós, acadêmicos modernos – embaraçados, nem deve ser vista como um obstáculo moderno a ser removido para que se possa descobrir as verdadeiras intenções e lições do trabalho de Manilius. Ao contrário, a dificuldade é essencial em “Astronômica”, ou pelo menos uma importante parte da obra: a inabilidade para compreender a lição está descrita claramente no poema quando ouvimos, pela primeira vez na poesia didática, o leitor/aluno interromper o professor para expressar sua patinação na obscuridade mental (4.387-9). Eu continuo com a argumentação de que essa dificuldade de compreensão é estratégia deliberada que acomoda tanto o desenvolvimento dinâmico do gênero didático como o contexto sócio-político da Astrologia nos primórdios do século I DC, na Roma Imperial.

[tirado de: http://www.solarnavigator.net/history/astrology/sagittarius.htm]

Sobre o Autor

CNA (Central Nacional de Astrologia)
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