Por que o tratamento da astrologia é uma forma de discriminação

3 de fevereiro de 2011 Artigos, Diversos: a partir de janeiro/2010 Comentários desativados em Por que o tratamento da astrologia é uma forma de discriminação

Tradução de Márcia Ferreira

Em 1989, houve a conferencia da UAC em Nova Orleans, e um pouco antes de começar, houve uma reunião para a imprensa, o que é muito usual de acontecer nas nossas conferencias astrológicas. A imprensa estava em parte representada pelo New Orleans Times. Bem, muitos astrólogos, na época mais antigos do que eu, apresentaram muitos pontos interessantes sobre astrologia, os quais eu não me lembro agora, mas que tenho certeza eram muito interessantes. E num certo momento, quando muitas colocações já haviam sido feitas sobre astrologia, um dos repórteres levantou e disse:

“Bem, se o que vocês dizem é verdade, por que é que a astrologia é ridicularizada por tantas pessoas, inclusive pelos cientistas?”

Foi então que eu fiz uma colocação, com meu marte e plutão no ascendente, e percebi que o que os próprios astrólogos não reconhecem é que o status da astrologia é um problema político, e que a posição da astrologia em nossa sociedade é completamente análoga àquela dos gays antes do Stonewall.

Então, agora, eu gostaria de re-examinar essa questão:

A comunidade astrológica ainda hoje se coloca como a comunidade gay antes do Stonewall? E se sim, o que isso significa para o futuro da astrologia e o que podemos fazer a respeito? A astrologia tem alguns pontos interessantes em comum com a comunidade gay:

Então, número 1: como os gays, você não consegue reconhecer um astrólogo nas ruas! Ou seja, nós temos a mesma coloração protetora; isto quer dizer que “sair do armário” para um astrólogo significa muito!

Existe uma considerável comunidade religiosa que hostiliza tanto homossexuais como astrólogos, e neste contexto, a prática de ambos pode ser considerada um pecado, apesar de que aqui poderíamos até abrir espaço para uma interpretação se seria mais fácil curar um ex-homossexual ou um ex- astrólogo…mas eu não vou tomar uma posição nisso agora…

Um astrólogo pode achar difícil “sair do armário” para seus amigos, sua família ou parentes.

Estarão aptos a admitir o que fazem p/ seus amigos?

“E o que eles irão pensar? ”

“Será que eles vão parar de falar comigo?”

– um astrólogo poderia perder credibilidade em seus círculos sociais por assumir sua profissão;

– um astrólogo poderia ser atacado ou até mesmo preso; e nós sabemos que isto já aconteceu e é graças a isso que nós temos a AFAN ( The Association for Astrological Networking )

– um astrólogo poderia passar por situações onde amigos passassem a não mais trazer seus filhos para brincar em sua casa

E se vocês pensam que isso é uma piada, isto realmente aconteceu comigo quando eu estava morando na Flórida!

– um astrólogo pode passar por discriminações no trabalho sob a forma de demoras em promoções
E isso é legal porque não há nada nas leis que nos proteja pela nossa paixão!

Kepler College já teve seu pedido de reconhecimento negado sumariamente, o que significa que eles nem se preocuparam em ler, porque nós usamos a palavra que começa com “a”!

Isto é discriminação! E é feio!

E uma das razões que isso continua a acontecer é precisamente porque a comunidade astrológica age como os gays agiam antes do Stonewall!

O que acontecia antes do Stonewall é que a maioria dos homossexuais, já que esta era a terminologia utilizada na época, eles próprios rejeitavam a proposta de que a discriminação contra os homossexuais era de fato uma questão política e, portanto, deveria ser colocada em canais políticos.

Então, o que os gays faziam: socializavam somente com outros gays, criaram seus próprios guetos que vocês bem conhecem, desenvolveram um jeito de se vestir que era um meio de se comunicar com outros gays, e enquanto isso seus sinais eram totalmente ignorados pela comunidade;ainda mais, eles permitiam um nível de aceitação social, mesmo que aquela aceitação social fosse somente uma mentira. No segundo ano de existência da Kepler College, nós tivemos o caso de uma estudante que não pôde nem mesmo concluir o semestre porque sua família estava totalmente abalada porque ela queria estudar astrologia! Isto é real.

O que você deve estar ouvindo quinhentas vezes nesta conferencia, já ouviu nas últimas conferencias, e ouvirá nas próximas, é a frase: “Puxa, como é bom poder estar com um monte de pessoas com quem eu posso falar sobre o que eu estou realmente interessado!”

Isto é uma marca de discriminação.
Você tem medo de admitir para alguém qual é sua cor favorita?

Você tem medo de admitir qual é sua banda favorita?

Você tem medo de admitir qual é sua profissão, se não for astrologia?

Eu não estou dizendo que todas as vezes que você se sente incomodado em dizer alguma coisa a seu respeito para outras pessoas, que seja necessariamente uma discriminação, mas é importante que vejamos a situação como ela é. Acredito que poderíamos fazer uma distinção muito importante entre a discriminação contra os astrólogos e discriminações contra minorias neste país, pois outras minorias já foram mais brutalmente afetadas do que nós ao longo da história, mas isso não quer dizer que não seja real.

Então, se assumirmos que há uma dimensão política, por que nós deveríamos nos preocupar? Porque, como eu disse, pode nos parecer que não seja tão ruim assim e pode nos parecer que situações que ocorram sejam triviais, em comparação a estas outras situações piores. Não é! Qualquer situação onde houver algum tipo de dano para uma psique por algum ataque ou por algum tipo de auto-ataque, é uma forma de abuso, afetando tanto o abusado como o abusador.

Como podemos falar sobre uma profissão verdadeira numa situação onde um expressivo número de praticantes tem medo de admitir sua profissão para um estranho? Como pode ser isso?  Como poderíamos descobrir uma maneira de não sermos obrigados a aceitar qualquer cobertura da mídia, qualquer alegação, não importa quão ridícula e desinformada ela seja! Alguns anos atrás, no final dos anos 50 e começo dos anos 60 um amigo meu se levantou para protestar contra o status dos homossexuais, e o que aconteceu foi que a maioria dos homossexuais na época o fizeram calar a boca!

Um outro sinal de discriminação são os eufemismos.

Existem vários eufemismos para homossexualidade, e no caso da astrologia, vejam por exemplo, o termo geocósmico.

Me desculpem, eu sou membro efetivo da NCGR ( National Council for Geocosmic Research ), já pertenci ao quadro da diretoria, mas eu também conheço a história da formação da NCGR. Houve uma considerável discussão se deveria ser usada a palavra “a” no nome!

Além disso, nós nos sentimos mais confortáveis com as abreviações, não é verdade?  Kepler College teve que deixar de ser Kepler College of Astrological Arts and Sciences! Alguns anos atrás nós legalmente mudamos o nome da faculdade não porque nós tenhamos mudado o currículo, mas sim porque nós sabíamos que não teríamos uma única chance no mundo de conseguir o reconhecimento se nós não mudássemos o nome!

Nomes são significativos! Palavras têm significados!

Agora, se olharmos para a recente história do movimento gay, levou quase um ciclo de saturno, imaginem isso, para os gays começarem a ativar uma massa crítica, tanto que quando Kepler College abriu em 2000, a preferência de gênero não era relevante na faculdade, mas não foram muitos anos antes disso, que se podia ouvir cochichos de membros da audiência nas palestras astrológicas se a palestra fosse dada por um astrólogo gay!

Então, quando a astrologia começará a caminhar rumo a uma aceitação política e como isso acontecerá? Bem, o primeiro passo deve ser a aceitação de que estamos confrontados com um problema político e que o problema político é mais profundo do que algumas questões legais às quais AFAN tem violentamente se dirigido.

O desafio de se direcionar neste caminho é não só pelo fato de que seja um tanto desconfortável mexer com isso, mas também que o processo não é o que nós, astrólogos, procuramos quando atendemos ao nosso chamamento interno para astrologia.

Nós decidimos fazer astrologia e não política, e muitos de nós que têm experiência nesta área de ação política, além de já termos um longo caminho percorrido, agora temos nossa reputação para cuidar, além do que nesta altura temos que nos preocupar com nossa pressão arterial!

Mas eu gostaria de chamar os astrólogos para começar este processo de recuperar o nosso poder dentro da sociedade como um todo.

Todos nós vimos as estatísticas que 43 milhões de americanos em algum nível acreditam em astrologia e se nós acreditarmos nesta estatística, nós estamos numa situação muito melhor do que os gays estavam na época do Stonewall ou do que estão agora, porque pelo que esta estatística representa, esta é uma porcentagem muito maior em relação à população como um todo. Mas para isso nós temos que fazer uma coisa que é extremamente difícil, e isto é : nós temos que sair do armário!

Nós respiramos o mesmo ar, vamos às mesmas lojas, criamos nossos filhos com as mesmas preocupações que todo o restante do mundo!

Nós precisamos conseguir encontrar caminhos de construtivamente engajar pessoas fora da comunidade astrológica e desafiar seus preconceitos sobre nós.

Mas eu não vou propor que formemos uma organização ou organizações de ação política. O processo político para nós, astrólogos, é uma distração; o processo político para nossos críticos é a razão principal.

Não precisaria ser um movimento político; poderia ser uma implementação de um velho modelo dos anos 60: o pessoal é político.

A coisa mais importante que podemos fazer é : sair do armário.

Devemos desafiar a discriminação sempre que a vejamos e não só a discriminação contra nós mesmos, mas qualquer forma de discriminação é uma oportunidade para também conversar sobre nossas vidas e o que fazemos.

Nós deveríamos usar o exemplo dos quiropráticos e do movimento gay como nossas referencias. O movimento dos quiropráticos é um movimento profissional que recebeu crítica massiva da comunidade médica tradicional, mas acabou conseguindo seus objetivos, estabelecendo:

– uma infra-estrutura educacional
– um corpo profissional forte
– a habilidade para se colocar frente ao inimigo

O que eu quero dizer com isso? Quero dizer com isso que em lugares como no estado de Nova York é exatamente o quadro da AMA ( American Medical Association ), que conduz o certificado dos quiropráticos na área da anatomia.

E isso não faz sentido? O movimento gay é provavelmente a analogia mais próxima, porque como eu coloquei, de acordo com nossos amigos evangélicos, homossexuais deveriam parar de fazer o que fazem e similarmente, no modo como eles vêem, se a astrologia é uma ilusão, nós também deveríamos parar de fazer o que fazemos. O.k., mas há outras coisas que nós podemos fazer que também têm um efeito político:

– primeiro de tudo, nós podemos alcançar nossos objetivos através de se ter a melhor formação possível para os astrólogos; até que os estudos de astrologia não tenham sido academicamente reconhecidos, nós não teremos alcançado nossos objetivos; até que kepler college não tenha mais seus pedidos de reconhecimento sumariamente rejeitados, nós não teremos conseguido alcançar nossos objetivos

– os melhores esforços de uma organização para se transformar numa organização profissional, que seja verdadeiramente reconhecida por outras organizações profissionais, deverão ser incentivados

– devemos infelizmente envolver-nos em constantes confrontos com a imprensa sobre como nos apresentarmos de maneira justa; isso poderá ser enviando cartas, poderá ser mandando e-mails, poderá ser através de telefonemas, e isto é algo que você não pode delegar a ninguém; eles não têm mais tempo do que você!

– nós devemos ativamente participar na esfera dos blogs, para dar nosso recado, quer a mídia tradicional queira quer não

– e nós precisamos conscientemente considerar nossas presenças na web, porque coletivamente cada website nosso mostra uma face da astrologia, e se nós estamos nos apresentando como mero entretenimento, então nós não temos que ser levados a sério

– uma outra coisa que todos nós devemos fazer é responder aos nossos detratores contra astrologia sempre que nós os vermos, sempre que houver uma oportunidade

Poder para o povo!
obrigada

Tradução de  Márcia Ferreira
www.astrologiaceap.com.br

Lee Lehman
Ph.D em Botânica
Professora e vice-presidente de assuntos acadêmicos na Kepler College
Autora de 05 livros sobre astrologia
Membro-efetivo da NCGR
Recebeu o premio Marc Edmund Jones em 1995
Recebeu o premio Regulus para educação em 2008

Sobre o Autor

CNA (Central Nacional de Astrologia)
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